Este espetáculo é uma adaptação do filme Ensaio de Orquestra (1978) de Federico Fellini. No filme, uma orquestra de música clássica encontra-se num oratório para ensaiar, aqui é a Orquestra de Jazz do Hot Club de Portugal e o ponto de encontro é o palco do Teatro Aveirense.
Fellini utiliza a orquestra, os instrumentos, os músicos e a música como metáfora de uma sociedade em crise. Apesar de Fellini afirmar que não tinha qualquer interesse na política, constrói um filme em torno de uma orquestra que recusa a sua natureza coletiva, e onde cada indivíduo tem uma visão egocêntrica do seu papel. Estão apenas unidos pelo propósito de destronar aquele que entendem ser o seu inimigo comum: o maestro.
O filme foi criticado por muitos. Alguns viram nele uma apologia ao fascismo, outros apontaram que era uma abordagem política ingénua. Foi considerado reacionário e conservador. Mas para o próprio Fellini, Ensaio de Orquestra não é nada disso. «É uma parábola ética para provocar uma certa vergonha no povo, para mostrar que a loucura desorganizada das pessoas pode provocar a loucura organizada do Estado, a ditadura.» Com este mote, interessa-nos também perceber onde está a liberdade do músico de jazz. Onde está a liberdade coletiva e individual?